terça-feira, 20 de março de 2018

Dez Excelentes Filmes sobre Músicos Sonhadores


Fazer sucesso no mundo da música, definitivamente, não é um negócio fácil. Ao contrário do que muitos pensam, guardado alguns casos especiais, a grande maioria das estrelas de hoje tiveram que ralar muito para chegar ao topo. Como podemos perceber no recente Patti Cake$ (leia a nossa opinião aqui), um adorável drama musical ‘indie’ sobre uma jovem “fora dos padrões de beleza” em busca do sucesso no concorrido (e segmentado) mercado do rap. Com Danielle Macdonald na pela da jovem Patricia, o longa dirigido por Geremy Jasper encanta ao narrar a jornada de amadurecimento de uma sonhadora cantora, refletindo sobre os obstáculos financeiros, o preconceito e as dificuldades no caminho para o sucesso. E aproveitando que Patti Cake$ é assunto aqui no Cinemaniac, nesta lista reuniremos outros dez excelentes filmes sobre músicos sonhadores. Para tornar esta seleção mais original, porém, decidi excluir as cinebiografias e os longas inspirados em fatos, portando deixarei de fora sucessos do nível de Amadeus (1984), Bird (1987), A Fera do Rock (1989), The Doors (1991), Ray (2004) e o recente Love e Mercy (2014). Dito isso, começamos com… 

- Purple Rain (1984) 


Responsável por alavancar a carreira do gênio Prince, Purple Rain se tornou um clássico cult ao seguir os passos de um jovem cantor em busca do estrelato. Recheado de canções memoráveis, vide a extraordinária performance final do hit que deu título ao longa, o diretor Alberto Magnoli conseguiu capturar a aura indomável de um músico talentoso e sonhador “asfixiado” pela realidade que o cercava. Longe de ser um filme primoroso, muito pelo contrário, Purple Rain, tal qual Patti Cake$, encanta ao capturar a verdade do artista, ao mostrar os seus conflitos, os seus medos, os seus anseios, e como isso ajudava a manter a sua “chama” acesa. A resiliência é o foco num filme denso, brega em alguns momentos, mas empolgante em outros. 

- The Wonders: O Sonho Não Acabou (1996) 


Impecável ao mostrar o quão difícil é a manutenção do sucesso, The Wonder: O Sonho Não Acabou cativa ao mostrar a ascensão, a euforia, o sucesso e a derrocada de um quarteto nos anos 1950\1960. Sob a batuta de Tom Hanks, o longa passeia pelo cenário musical do rock ‘n’ roll nestas duas décadas ao mostrar os dois lados da moeda. Ao se debruçar não só sobre o esforço, os sonhos e a alegria dos músicos em ver o sucesso se concretizar, como também nas rixas egocêntricas, nos problemas impostos pela convivência e na perda da privacidade, The Wonders oferece um relato completo sobre a rotina no mundo do show biz, uma visão singular numa época em que o sucesso estava associado a histeria feminina. Além disso, o filme mostra o perigo do “one hit wonder”, um termo definido para classificar as bandas que alcançaram o topo com um único sucesso e não conseguiram ir além disso. Em suma, The Wonders se revela um filme agradável marcado pelos ótimos números musicais, pela chiclete “That Thing You do” e pelas ótimas atuações de Tom Everett Scott e Ethan Embry. 

- Rock Star (2001) 


Imagine você ter a oportunidade de substituir o seu ídolo na banda dos seus sonhos? Esse é o plot central de Rockstar, um drama musical carregado por temas bem comuns dentro do universo da música. Com Mark Walberg no papel de um jovem músico que, após uma exibição durante um show, é convidado para fazer um teste na maior banda de heavy metal da sua geração, o longa dirigido por Stephen Herek é profundo ao traduzir a derrocada da essência do artista. Dividido em duas partes bem distintas, num primeiro momento acompanhamos a ascensão de um cantor encantado por ter a oportunidade de viver o seu sonho, de cantar para plateias enormes, de participar das melhores festas, de usar os melhores instrumentos, de fazer parte da banda do momento. Já num segundo momento, Herek é habilidoso ao se debruçar sobre os conflitos de um astro corrompido pelo meio em que habita, pelas drogas, pelos relacionamentos frágeis, pela vaidade e pelo egocentrismo. Recheado de ótimas canções, Rockstar joga uma luz sobre a realidade das grandes estrelas do rock ao mostrar que nunca é tarde para renovar os seus sonhos. 

- No Ritmo de um Sonho (2005) 


Do rock para o rap, No Ritmo de um Sonho coloca o dedo na ferida ao narrar as desventuras de um cafetão disposto a conseguir o sucesso dentro deste gênero. Com Terrence Howard no papel principal, o longa dirigido por Craig Brewer extrai o máximo de realismo ao mostrar os obstáculos e as barreiras sociais no caminho para o estrelado. Apesar da agressividade do texto, o realizador permite que o público enxergue a essência deste músico, a verdade da sua arte, os seus sonhos e anseios, refletindo nas letras e na sonoridade os problemas enfrentados por ele na sua rotina. Contando ainda com um poderoso clímax e fantásticas canções originais, No Ritmo de um Sonho é um soco no estômago em formato fílmico, uma prova que o talento pode florescer dos cenários mais conturbados. 

- Escola do Rock (2003) 


Como é bom ver um sonho passar de um “professor” para os seus alunos. Talvez o filme mais popular da lista, Escola do Rock ganhou este status ao narrar a jornada de um músico frustrado disposto a recuperar o seu prestígio com a ajuda de uma prodigiosa turma de jovens músicos. Sob a batuta de Richard Linklater, o longa passeia pelo rock\hard rock\heavy metal dos anos 1960, 70, 80 ao mostrar como um sonho pode ser contagiante. Recheada de fantásticas apresentações, a garotada realmente solta a voz ao lado do carismático Jack Black, o que fez de Escola do Rock uma referência no que diz respeito aos filmes sobre o mundo da música. 

- Apenas uma Vez (2007), Mesmo se Nada der certo (2013) e Sing Street (2016) 


Se tem um realizador que entende de músicos sonhadores, esse é o caso de John Carney. Com uma filmografia enxuta, porém memorável, o realizador irlandês encheu a tela de sentimento ao dar voz aos seus encantadores músicos, começando no adorável Apenas uma Vez (2007). Num romance musical de arrepiar, o longa narra a resiliente jornada de dois artistas de rua que, juntos, encontram a fórmula para conseguir uma cobiçada chance de brilhar. Embalado pelo ‘hit’ Falling Slowly, Apenas uma Vez encanta ao conseguir o equilíbrio perfeito entre o sonho do sucesso e a realidade. Um belo filme. Cinco anos mais tarde, ele voltaria ao universo que o consagrou, desta vez sob um prisma ‘mainstream’, no fascinante Mesmo se Nada der Certo. Novamente equilibrando música e romance, o longa estrelado por Mark Ruffalo, Keira Knightley e Adam Levine envolve ao narrar as desventuras de um casal de sonhadores músicos que vê o seu elo se perder diante das tentações do mundo do showbiz. Indo além do seu primeiro grande sucesso, Carney é cuidadoso ao explorar os conflitos impostos pela rotina de shows e viagens, escancarando as diferenças entre o conforto do cenário ‘indie’ e a exigência da música pop. E isso no embalo de uma singular trilha sonora, recheada de composições originais e alguns bem-sucedidos hits. Por fim, Carney decidiu voltar a sua infância e acompanhar o florescer do sonho musical no apaixonante Sing Street: Música e Sonhos. Num recorte musical ditado por uma série de sucessos da década de 1980, o realizador volta para a Irlanda ao narrar a cativante jornada de um jovem que, para conquistar a garota dos seus sonhos, decide formar uma banda de rock. Um relato revigorante sobre as oportunidades que a vida dá e sobre a maneira com que lidamos com elas. 

- O Concerto (2009) 


Um respeitado maestro soviético vê o seu sonho ruir quando o governo, numa atitude arbitrária, decide bani-lo da função. Esse é o plot central de O Concerto, uma comovente ‘dramédia’ sobre um músico que não deixou o seu sonho sucumbir a opressão e a truculência estatal. Com Aleksey Guskov na pele do maestro que, após a sua sumária dispensa, decide trabalhar como zelador da Orquestra Sinfônica local para se manter próximo a sua arte, o longa dirigido por Radu Mihaileanu (Trem da Vida) transita entre os risos e as lágrimas ao narrar as peripécias deste veterano diante da sua chance de dar o troco nos seus algozes. Recheado de memoráveis sequências musicais, o clímax, em especial, é primoroso, o realizador romeno exalta o fator humano ao construir um intenso drama familiar, extraindo o máximo do seu carismático ao realçar o poder de um sonho diante da opressão. Além disso, Mihaileanu é astuto ao diluir as barreiras entre o erudito e o pop, torando O Concerto uma experiência para os fãs e os não fãs da música clássica. 

- Whiplash: Em Busca da Perfeição (2014) 


Grande vencedor do Festival de Sundance de 2015, Whiplash: Em Busca da perfeição é muito mais do que uma simples ode ao Jazz. Dirigido pelo prodígio Damien Chazelle (Toque de Mestre), que com apenas 29 anos filmou e editou o longa em dez dias, esse intenso drama musical é primoroso ao ressaltar o esforço técnico por trás do sonho de se tornar uma estrela da música. Se concentrando na relação de um opressor maestro, numa atuação soberba de J.K Simmons (Juno), com um pragmático aluno, vivido com energia por Miles Teller (Finalmente 18), essa obra empolga ao mostrar o quão tênue é a linha entre a obsessão e a perfeição. Aqui enxergamos não só a dedicação do artista, o seu esforço e aprimoramento técnico, como também o isolamento, a pressão psicológica e as consequências por trás da busca pela perícia extrema. Uma experiência enérgica sintetizada na catártica sequência final. 

- Inside Llewyn Davis (2013) 


Um dos melhores filmes desta lista, Inside Llewyn Davis é irônico ao mostrar a desaventurada jornada de um músico íntegro em busca do sonho do estrelato. Sob a afiada batuta dos irmãos Coen, o longa estrelado por Oscar Issac causa um misto de emoções ao acompanhar os passos de um cantor talentoso e obstinado, investindo no drama e na comédia ao realçar o quão tênue pode ser a linha entre a resiliência e a teimosia. Impulsionado pela extraordinária performance de Oscar Issac, magnífico ao dar voz as belas canções, Ethan e Joel Coen quebram as nossas expectativas no momento em que decidem nadar contra a corrente do gênero, mostrando a dureza da realidade sob um prisma intenso e sarcástico. O resultado é um longa refinado marcado por sequências naturalmente comoventes e um personagem principal digno dos maiores aplausos. 

- Frank (2014) 


As canções soam completamente estranhas. Os personagens são igualmente exóticos. No meio de tamanha excentricidade, porém, Frank se revela um longa extremamente lúcido ao discutir os limites morais por trás do incessante sonho de se tornar um astro da música. Tirando um belo proveito da experimentalista trilha sonora, que cativa em função das vigorosas e surtadas performances, o diretor Lenny Abrahamson se apoia na egocêntrica dinâmica de uma transloucada banda independente para contestar a "pasteurização” do cenário musical atual e o recorrente culto à figura da celebridade. Ainda que a despretensiosa atmosfera 'indie' possa incomodar aos desavisados de plantão, este eficiente e bem-humorado drama acaba conquistando graças a aura enigmática em torno do carismático e inocente protagonista vivido por Michael Fassbender (12 anos de Escravidão). Um personagem que, mesmo "escondido" atrás de uma enorme cabeça de papel machê, impressiona por sua absurda expressividade. Na verdade, a máscara surge como uma inspirada metáfora envolvendo o atual cenário da música independente, um mercado que cada vez mais abre espaço para as novas experiências, mas que geralmente padece diante das limitações impostas pela segmentação e pelo fraco retorno financeiro. Brincando com os conflitos em torno desta excluída banda, o argumento torna esta comparação bem clara quando Frank, envaidecido pelo elevado número de acessos no youtube, resolve expor a sua arte em um grande festival. É aqui que a discussão moral em torno da busca pela fama ganha força, colocando em cheque não só o culto às celebridades instantâneas, mas também a essência do grupo e a necessidade dele se adaptar a uma "nova" realidade comercial. Dilemas bem recorrentes que tornam Frank um retrato interessantíssimo sobre o ‘modus operandi’ da indústria. 

Menções Honrosas: O Som do Coração (2007), Ainda Muito Loucos (1998), Letra e Música (2007), 8 Mile (2002), Sing: Quem Canta seus Males Espanta (2016), A Família Bélier (2014), Viva: A Vida é uma Festa (2017).

Nenhum comentário: