sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Festival do Rio (The Skeleton Twins)


Protagonistas surpreendem nessa intensa "dramédia"

Oriundos da série cômica Saturday Night Live, os atores Bill Hader (Super Bad - É Hoje) e Kristen Wiig (Missão Madrinha de Casamento) surpreendem pela grande versatilidade demonstrada em The Skeleton Twins. Reconhecidos por seus trabalhos dentro da comédia, a dupla revela uma latente química em cena, nesta honesta "dramédia" dirigida por Craig Johnson (True Adolescents). Recheado de momentos fraternos, muito bem distribuídos ao longo do denso argumento, o longa sobre um casal de irmãos problemáticos traça um relato sem julgamentos, com ares pessimistas, sobre os efeitos das expectativas frustradas em nossas vidas.


Apostando em doses suaves de humor, exploradas de forma perspicaz pelos dois marcantes personagens, a trama assinada por Johnson, ao lado de Mark Heyman, opta por dissecar pouco a pouco os dilemas e equívocos em torno das atitudes da dupla. Demonstrando intensidade ao narrar os reflexos de uma vida cheia de falhas, o roteiro - vencedor do Festival de Sundance em 2014 - nos apresenta a história de Millo (Hader) e Maggie (Wiig), irmãos que viram a sua vida mudar após uma tragédia familiar. Separados por dez anos, os dois voltam a se aproximar quando Millo, um frustrado ator homossexual, tenta o suicídio após uma desilusão amorosa. Escondendo uma rotina de fracassos, incluindo um casamento infeliz, Maggie decide abrigar o seu irmão para evitar um novo desastre. Em meio aos problemas dela com o zeloso marido (Luke Wilson), que sonha em ter um filho, Millo acaba se reaproximando de um antigo professor (Ty Burrell), na tentativa de reviver um problemático caso do passado. Escondidos atrás de suas respectivas mentiras, os dois passam refletir sobre as decisões erradas, buscando ajuda mútua na tentativa de encontrar um novo caminho. 


Conduzindo a trama de forma sútil, Craig Johnson apenas flerta com o tom agridoce ao desenvolver a relação de amor e ódio entre os dois irmãos. Explorando os interessantes coadjuvantes, dois bons desempenhos de Ty Burrell e Luke Wilson, o diretor se aproveita do carisma de Wiig e Hader para nos apresentar os altos e baixos da relação de Millo e Maggie. Indo do embate intenso ao mútuo afeto, a complexa parceria dos dois ganha contornos expressivos em cena, principalmente em função dos temas pesados que a cercam. Recorrendo sempre a memória afetiva dos irmãos, o que rende momentos mais leves graças aos bem utilizados flashbacks, Johnson consegue tirar o máximo dos dois protagonistas, que demonstram perícia ao flutuar do drama à comédia. Ainda que Wiig tenha uma cativante atuação, o que não é novidade em sua eficiente carreira, é Bill Hader a grande surpresa desse longa. Se entregando ao máximo a um personagem repleto de fragilidades e carisma, Hader mostra em Millo uma faceta pouco notada em sua carreira.


Ainda que o terceiro ato seja marcado por algumas forçadas de barra, com direito aos típicos clichês do melodrama, The Skeleton Twins se consolida como uma equilibrada "dramédia" sobre o processo de redescoberta, seja pessoal, seja emocional, de um casal de irmãos. Em meio às ótimas atuações e a robusta trama, Craig Johnson aproveita a grande química entre os dois, provavelmente oriunda dos muitos trabalhos no SNL, para conquistar o público através de um marcante laço afetuoso. Um sincronia que garante, inclusive, uma inusitada performance ao som do hit oitentista Nothing's Gonna Stop Us Now, da banda Starship. Uma cena que mostra a verdadeira faceta dos dois, quase perdida em meio as desilusões da vida.

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