sábado, 4 de fevereiro de 2012

Os Descendentes

Novo longa de Clooney, prova o valor de um poderoso roteiro 

Um dos longas mais elogiados de 2011 mundo a fora, Os Descendentes é um daqueles exemplos de filmes que não precisam de muito para cativar o público. Apostando no talento de George Clooney, aqui numa atuação irrepreensível, em um elenco de apoio inspirador e numa trama extremamente original, o filme foge dos melodramas e conquista o espectador graças a sua sensibilidade na forma de retratar a dor da perda. 

Dirigido por Alexander Payne (Sideways - Entre umas e outras), Os Descendentes era o típico filme que nas mãos erradas viraria apenas mais um drama familiar. Daqueles de arrancar algumas lagrimas ao assistir, mas que minutos depois já faz parte do passado. Felizmente não é isso o que acontece, e o que vemos é um filme inventivo, original, que escapa das mesmices na tentativa de mostrar a capacidade de superação de uma família no auge do seu mais complicado momento. Família, aliás, capitaneada por Matt King (George Clooney), um advogado de sucesso que em meio ao frenesi do seu trabalho, acabou a deixando em segundo plano, principalmente sua mulher Elizabeth (Patricia Hastie) e suas duas filhas Scottie (Amara Miller) e Alexandra (Shailene Woodley). Porém, tudo muda na vida dele, quando Elizabeth sofre um grave acidente de barco e fica entre a vida e a morte no hospital. Com a responsabilidade de cuidar novamente de sua família, Matt acaba descobrindo que a situação de sua esposa é o menor dos seus problemas, que incluem ai as suas duas problemáticas filhas, a venda de um terreno que pertence a sua família, e até mesmo, a traição de sua mulher. 

Se apoiando num argumento rico de situações, assinado por Alexander Payne, Nat Faxon e Jim Rash, Os Descendentes consegue explorar com simplicidade as relações humanas de seus personagens. Com diálogos inteligentes, repletos de profundidade, a trama inspirada no livro de Kaui Hart Hemmings se desenvolve de forma suave, apesar da temática extremamente dura. É interessante ver como o roteiro, mesmo com alguns momentos de maior lentidão, explora bem as agruras de um pai, que após anos de desleixo familiar precisa retomar as rédeas de sua vida. Méritos para a direção de Payne, que se apóia na bela fotografia havaiana, na energizante trilha sonora e em takes intimistas para dar ainda mais vida a história que nos é apresentada.

Vale ressaltar também o ótimo trabalho do diretor na condução do seu elenco, que nos brinda com interpretações intensas e nitidamente cativantes. A começar por Clooney que tem aqui, talvez, a grande atuação de sua carreira. Mostrando uma entrega invejável, o ator consegue passar apenas com o olhar toda a sensação de desnorteio pela qual vive seu personagem. Conseguindo fluir bem da comédia ao drama, Clooney mostra ótima química com suas duas "filhas" e emociona no papel do pai que quer reconstruir sua família. Além de Clooney, os outros destaques de Os Descendentes ficam para as jovens atrizes Amara Miller e Shailene Woodley, que apesar da pouca experiência nas telonas, mostram talento e conquistam o espectador na pele das duas temperamentais e complicadas filhas de Matt. O filme apresenta também um elenco de apoio bem escolhido, com destaque para Robert Foster (Eu, eu mesmo e Irene), que vivendo o pai de Elizabeth protagoniza uma das mais belas e tocantes cenas que pude assistir nos últimos anos.

Um dos favoritos na corrida do Oscar, Os Descendentes tem todos os méritos para ser considerado um dos grandes filmes de 2011. Um filme plausível, real, que não se preocupa em ser apenas mais um melodrama barato. Um retrato comum, mas incrivelmente cativante, dos muitos dramas que algumas famílias tem de enfrentar em todos os anos. Vale como entretenimento, como reflexão e, acima de tudo, como cinema de ótima qualidade.


2 comentários:

Tiago Britto disse...

Muito bom, porém me criaram muitas expectativas, o que me fez gostar menos do que deveria...

thicarvalho disse...

Eu estava justamente no caminho oposto. Por isso curti e mto. Abs e valeu pela visita.